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✨Capítulo 1
JUNEAU TENTOU SAIR DE FININHO rapidamente antes que sua mãe começasse a falar a que horas tinha que estar de volta ou lhe dar uma infinidade de outros conselhos para mantê-la sã e salva. Ela abriu a porta, vestindo seu suéter, e agarrou sua bolsa tudo ao mesmo tempo. Theo ficou diretamente em seu caminho, impossibilitando a partida rápida de Juneau. Por mais que ela gostasse de ver seu namorado, sorrindo apaixonadamente para ela, seu cabelo escuro ligeiramente longo e desordenado emoldurando seu rostinho bonito; ela estava frustrada por ele bloquear sua rota de fuga. Juneau virou para trás seus cabelos, longos e loiros cor de mel com impaciência.
“Olá, Sra. VanRam”, Theo cumprimentou em um tom amigável, coçando a cabeça. “Como vai?”
O cabelo de Ursula costumava ser loiro claro como o de Juneau, mas estava muito mais escuro agora. Foi pintado para evitar que o cinza aparecesse, com permanente e babyliss formando cachos saltitantes em um dia bom, e puxado para trás em um rabo de cavalo bagunçado em um dia mau.
“Oi Theo,” Ursula cumprimentou, uma ligeira ruga entre as sobrancelhas surgiu enquanto olhava para ele e forçava um sorriso. “O que vocês estão planejando para essa noite?”
Juneau revirou os olhos, fazendo caretas.
“A gente só vai sair pra comer, mãe. E assistir um filme.”
“Qual filme?” Ursula questionou.
“Um de romance,” retrucou Juneau. “A classificação é A12.”
“Parece legal,” disse Ursula calmamente, com os olhos vagando da filha para o pretendente outra vez. “Você está ciente das alergias da Juneau, né? Vocês vão para um lugar seguro, e você sabe sobre o autoinjetor dela?”
“Mã-ããe!” Protestou Juneau, envergonhada. “Só me deixa sair, tá? Eu não vou morrer! Vamos sair pra comer pizza, vai ficar tudo bem.”
Ursula suspirou.
“A questão é que você poderia morrer, se for exposta a alguma coisa por acidente. Adolescentes pensam que são imortais e que nada nunca vai acontecer com eles, mas você sabe como é, Juneau. Você já sentiu o que é não conseguir respirar. Ele tem que se sentir confortável em te dar uma injeção se alguma coisa acontecer.”
“Tá bom,” resmungou Juneau. Ela se virou para o seu Romeu de cabelos escuros com os olhos cintilantes. “Eu já te falei, né? Você tira a tampinha e enfia na minha coxa. Não se preocupa se vai me machucar, só enfia como se tivesse tentando estourar um balão. Ele tá bem aqui na minha bolsa. Ok?” Ela abriu a aba frontal da bolsa e mostrou-lhe dois autoinjetores bem presos ao interior do bolso.
Theo assentiu.
“Ok. Vai ficar tudo bem, Sra. VanRam. Vou cuidar bem dela. Amendoins, ovos e mariscos, certo?”
Ursula acenou com a cabeça, parecendo um pouco mais relaxada com seu recital.
“Mesmo que seja só um pouquinho,” lembrou ela.
“Sim senhora. Vou ter cuidado. Eu já estive neste lugar antes, e eles são bem limpos. E não vai ter amendoim nem ovo nem nada na pizza. Não vai ovo na massa, eu já perguntei.”
“Está bem.” Disse Ursula. “Bom, não se arrisque. E você volta até às onze?”
“Eu não sou um bebê”, protestou Juneau.
“Não, se você fosse um bebê eu teria dito oito. Onze em ponto. Te espero em casa até esse horário.”
“Eu trago ela pra casa,” concordou Theo.
“Vamos”, insistiu Juneau, agarrando a manga de Theo e tentando fazê-lo virar e sair para que ela pudesse fugir.
“Tchau, Sra. VanRam”, disse Theo educadamente. Ele recuou para deixar Juneau sair e colocou o braço em volta dela enquanto caminhavam até o carro. Theo abriu a porta de seu pequeno beater vermelho para Juneau e fechou-a quando ela estava assentada.
“Ela me trata como uma criança”, disse Juneau irritada quando ele entrou no banco do motorista.
“Ela está preocupada com a sua saúde,” acalmou Theo.
Ele se inclinou para beijá-la e, por alguns minutos, distraiu-a com seu ardor, mas Juneau se afastou dele.
“Não é como se eu não pudesse cuidar de mim mesma”, ressaltou ela. Theo ligou o carro e afastou-se da casa. “Quero dizer, eles confiam em mim para cuidar das crianças quando eles não podem estar por perto. Mas eu não posso cuidar de mim mesma? Como é que isso funciona?”
“As pessoas nem sempre fazem sentido”, disse Theo filosoficamente. Ele ligou o rádio, ainda tentando acalmá-la e distraí-la.
“Sempre que o meu pai fica doente e a minha mãe tem que ficar no hospital, quem cuida do Crispin e da Meggie? Eu! Se eu consigo cuidar de duas crianças pequenas, dar comida e cuidar da casa sozinha, por que não conseguiria de cuidar de mim mesma? Quando eu saio, eles ficam doidos. Eles não acreditam que eu consigo cuidar de mim mesma lá fora, no mundo real!”
“Eu sei”, concordou Theo. “É claro que você consegue. Os pais nem sempre percebem que os seus filhos cresceram. E a sua mãe realmente tem muito com o que se preocupar.”
Juneau bufou e recostou-se em seu assento, parecendo desapontada. Theo parou em um semáforo e aproveitou a oportunidade para se inclinar e beijá-la novamente. Uma buzina soou por trás deles quando o sinal mudou para verde e Theo se afastou, rindo, e voltou a dirigir.
“Ela tem muito com que se preocupar”, concordou Juneau. “Só o meu pai estar doente seria suficiente. Mas ela tem eu e as minhas alergias e Crispin com as convulsões. É bom que pelo menos a Meggie seja “normal”; ou a minha mãe poderia entrar em um colapso nervoso. Mas isso ainda não é desculpa pra me tratar como uma criança!”
“Mais cedo ou mais tarde, você vai ficar por sua conta e risco,” concordou Theo. “Ela tem que saber disso. Então você vai tomar todas essas decisões por si mesma; comer e fazer compras e ir a lugares. Ela não vai poder ficar te protegendo toda hora.”
Theo colocou a mão no joelho dela enquanto dirigia, e Juneau colocou a mão dela sobre a dele, acariciando-a levemente.
“Assim que terminar a escola”, ponderou Juneau, ” vou sair de lá. Vou arranjar um lugar pra mim. Vou tomar todas as minhas próprias decisões, e ela não vai ficar grudada em mim para se certificar que eu tô sempre bem. Eu sou quase uma adulta. Ela não pode continuar me tratando como uma criança.”
Theo assentiu.
“Quanto mais cedo você sair de lá, melhor”, ele concordou.
Ouvir isso de Theo deixou Juneau mais ansiosa e agitada, em vez de acalmá-la.
“Quando eu for embora, quem vai cuidar das crianças?” questionou ela pensativamente. “O que eles vão fazer? Arranjar uma velha para ser babá? Como é que ela vai cuidar do Crispin se ele tiver uma convulsão? E se no meio da noite a minha mãe tiver que levar o meu pai pra emergência ou algo assim? O que eles vão fazer?”
“Eles vão ter que dar um jeito”, disse Theo dando de ombros. “Se você não tá lá, você não tá lá. E se acontecesse alguma coisa você? Não é o seu trabalho ser babá deles.”
“Sim”, disse Juneau preocupada, ” mas eu sempre fui. Não sei o que eles fariam sem mim. É sério. Aquela casa só tá de pé por minha causa.
O canto da boca de Theo esquivou-se. Janeau percebeu o início de um sorriso e ficou ofendida.
“É sério! Você acha que a minha mãe consegue manter as coisas numa boa quando o meu pai fica no hospital durante algumas semanas? Ela não consegue” Eu que faço isso.
“Quando foi a última vez que ele ficou por algumas semanas? Ele parece bastante estável. Normal.”
Juneau ponderou a respeito.
“Bem, já se passaram alguns anos. Agora é mais um episódio ocasional quando eles precisam ajustar as prescrições. Aí ele fica de boa de novo por um tempo. Mas quando alguma coisa acontece e ele acaba indo pro hospital por algumas semanas… você não entende como é. É difícil.”
“Eu sei. Eu acredito em você. Eu só não acho… Eu não acho que eles precisam tanto de você como você acha. Todo mundo é dispensável. Tipo, se você fosse atropelada por um ônibus vindo da escola, o que eles fariam? Eles iam ter que achar alguém pra cuidar das crianças. E quando você sai de casa, é a mesma coisa. Eles vão que lidar com isso.”
“É, acho que sim,” concordou Juneau a contragosto.
Eles chegaram à pizzaria e Theo abriu novamente a porta de Juneau para ela. Era um pouco antiquado, mas isso sempre a fazia se sentir especial. Theo era um quebra-cabeça. Ele era mais velho que ela, mas não muito velho. Theo e Juneau ainda eram da mesma geração. Mas Theo era muito mais maduro do que os outros meninos. Os meninos da escola. Meninos no sentido literal da palavra. Não eram homens ainda. Eles não pensavam por si mesmos. Eles ainda viviam na casa dos pais. Poucos deles tinham carros próprios ou mesmo trabalhos de meio período. Eles não tinham carreiras, apartamentos próprios ou quaisquer pensamentos reais próprios. Todos eles jorravam as mesmas coisas ouviam um do outro, uma espécie de consciência coletiva; um borg coletivo de adolescentes com hormônios desenfreados. Mas Theo era diferente. Theo era mais velho, com uma mentalidade profissional, alguém que sempre a tratava bem. Ele não era esmagadoramente bonito; não como uma estrela de cinema ou algo assim, mais como um garoto de uma banda de garagem. Casual e autoconfiante, um cruzamento entre um bom menino e um menino rebelde. Theo estava com a barba feita, mas com seus longos cabelos castanhos ondulados e um brilho travesso nos olhos. Ele tinha um carro pequeno com bom consumo de combustível, não uma motocicleta ou algo perigoso. Ele tinha tatuagens nos bíceps, mas geralmente não eram visíveis, e não eram enormes ou de mau gosto. Os pais de Juneau não podiam reclamar que ele era um caloteiro ou que estava apenas em busca de sexo. Mas ainda assim eles não pareciam confiar nele. Ursula sempre fazia aquela cara carrancuda quando olhava para ele, e o olhar de Abe era abertamente suspeito. Mas… O Abe suspeitava de tudo, não? Isso não era culpa dela nem de Theo.
Theo abriu a porta da pizzaria para ela, e Juneau entrou, inalando o aroma quente, úmido e de pão fresco do restaurante.
“Ah, cara, isso tão cheira bem!” irrompeu ela.
Theo deu-lhe um aperto, parecendo satisfeito. Eles seguiram as instruções na placa que dizia para se sentarem e um garçom os atenderia em breve. Sentaram-se conversando e de mãos dadas sobre a mesa, acomodando-se e desfrutando da companhia um do outro. Um garçom logo veio e eles discutiram sobre qual sabor de pizza eles pediriam, beberam seus refrigerantes e esperaram pela pizza. O tempo passou agradavelmente, e os cheiros do restaurante funcionaram suficientemente em Juneau que ela estava pronta e ansiosa para comer quando a pizza chegou. Ela inalou o cheiro, fechando os olhos e saboreando-o. Ela abriu os olhos novamente enquanto Theo servia a cada um deles uma fatia e examinou a fatia para se certificar de que o restaurante havia acertado o pedido. Cada um deu a sua primeira mordida.
“Oooh,” Theo gemeu. “Isso é muito bom. Não te disse que eles fazem a melhor pizza da cidade? Ah cara, queria poder comer isso o dia inteiro e não ficar cheio. Eu viveria aqui, e ficaria comendo, comendo e comendo.
Juneau riu.
“Você não ia enjoar?”
Theo balançou a cabeça, afundando os dentes para arrancar outra mordida generosa da pizza, mastigando-a em êxtase.
“Não. Nunca.”
“Tem um cara que o meu pai consulta,” comentou Juneaeu. “Ele é, tipo, um grande mafioso ou algo assim, eu acho. Banducci. Um cara mau mesmo. Ele foi preso e condenado à morte. Mas ele é enorme, obesidade mórbida. Já vi fotos dele. Aposto que ele conseguiria comer pizza o dia todo.”
“Se eu pudesse comer isso o dia todo, não me importaria se estar preso. Eu ia preferir comer até morrer do que tomar a injeção. Né?”
Juneau lambeu o molho de pizza dos lábios e esfregou delicadamente com o guardanapo.
“Não sei. Acho que eu ia enjoar de comer pizza toda hora.”
Theo balançou a cabeça, puxando um pedaço de calabresa da pizza com os dedos e estourando-o na boca.
“Enjoar de pizza? Que sacrilégio! Hummm. Mas o que que o seu pai faz pra esse cara.?”
“Ele faz uma dieta pra ele. O que ele deve comer em cada refeição, pra tentar deixar ele mais saudável e perder um pouco de peso.
“Por que ele iria querer isso?” Questionou Theo. “Quero dizer, se ele está no corredor da morte, quem liga pra ser saudável? E se ele perder peso… bem, eles vão matar ele de qualquer forma, não vão?”
Juneau mordiscou a crosta de sua fatia de pizza, apreciando a borda crocante e apetitosa.
“Bom, na verdade,” disse ela “no momento eles não podem matar ele. Muitas complicações por causa da obesidade. Então, se ele perder peso, eles poderiam matar ele, mas por enquanto eles não podem.”
“Então por que ele seguiria qualquer dieta estúpida?”
Juneau deu de ombros.
“Meu pai não trabalha pro Banducci. Ele trabalha para a prisão pra consultar sobre ele. Ele tem que criar um menu saudável que gradualmente reduza o número de calorias que ele está consumindo, pra que ele possa perder peso lentamente. Mas Banducci tem muitos advogados muito poderosos e aí eles apresentam queixas por punições cruéis e incomuns. Eles dizem que eles estão indo contra os direitos humanos, matando ele de fome e essas coisas. Meu pai tem que preparar a dieta para mostrar que eles fornecem nutrientes suficientes e tudo mais, mas o Banducci fica alegando que meu pai está tentando matar ele de fome, que ele está sempre com fome com a dieta. É meio bizarro.”
Theo assentiu com interesse. A garganta do Juneau estava ardendo. Ela tomou um gole de seu refrigerante, olhando para a pizza para se certificar de que não tinha flocos de pimenta.
“É um molho bem picante, né?” observou ela.
Theo ergueu as sobrancelhas, dando outra grande mordida.
“Não”, disse ele, ” é bem suave.”
“Tá meio que queimando,” reclamou Juneau, acariciando seu pescoço. Ela sentiu um aperto subindo do peito, subindo pela garganta, até o couro cabeludo, que picava e coçava.
De repente, Juneau percebeu o que estava acontecendo. Ela olhou para os braços, começando a explodir em grandes vergões e manchas.
“Tô tendo uma reação”, disse ela, com o coração acelerado enquanto largava a pizza, olhando para ela horrorizada. “Tenho alergia a alguma coisa!”
“Alergia do que?” Theo perguntou com curiosidade. “A gente tomou cuidado. A gente não pediu nada que pudesse dar problema”
Juneau respirou forte, suas respirações começaram a assoviar quando ela aspirava.
“Theo. “Liga pro-” disse ela gesticulando em direção ao seu telefone, sua voz falhando. “911!”
Theo olhou para ela, com olhos arregalados. Ele pegou o telefone e ligou para a emergência. Ele, nervoso, gaguejou um relatório e pediu uma ambulância, olhando para o cardápio de sobremesas entre eles na mesa para se lembrar do nome do restaurante, que havia fugido de sua mente com o pânico.
“Ela tem epinefrina?”o despachante de emergência questionou. “Um Epipen ou outro autoinjetor?”
“Sim”, Theo se atrapalhou para segurar o telefone com o ombro enquanto pegava a bolsa de Juneau dela. Juneau estava tentando encontrar o autoinjetor, mas seus dedos estavam desajeitados e seu cérebro nebuloso, e ela não conseguia se lembrar onde encontrá-lo. Theo puxou um dos autoinjetores e tirou a tampa, deixando cair o telefone no chão por acidente e deixando-o onde pousou.. Um tumulto se iniciou em torno deles quando as pessoas começaram a notar o drama, e alguns garçons vieram perguntar, parecendo preocupados. Theo não conseguiu parar para ler as instruções do injetor. Ele enfiou-o na perna de Juneau, esperando que tivesse feito certo.
A respiração difícil de Juneau diminuiu um pouco. Ela tentou falar, mas seus lábios e garganta não conseguiam articular muito mais do que um grunhido ininteligível. Ela gesticulou para o segundo autoinjetor. Theo olhou para ele.
“Você quer que eu te dê o outro também?” ele questionou, confuso.
Juneau balançou a cabeça e bateu no relógio.
“Ainda não? Mais tarde?”
Ela assentiu.
“Quando?”
Ela apontou novamente para o autoinjetor. Theo tirou-o da bolsa e estudou as letras pequenas na lateral. Em caso de sintomas persistentes…
“Dez a quinze minutos”, disse Theo em voz alta. “Se você ainda tiver tendo sintomas em dez a quinze minutos, eu te dou o segundo.”
Juneau assentiu. Sua respiração não estava mais assoviando, mas ela obviamente ainda não estava fora de perigo. Seus olhos estavam arregalados e apavorados.
“Tá tudo bem,” tranquilizou-a Theo, tocando sua mão. “A ambulância está a caminho, eles vão cuidar de você. Vai ficar tudo bem.”
Alguém colocou o telefone na outra mão dele, e Theo olhou para ele por um momento sem agir, depois levantou-o até o ouvido. O despachante ainda estava lá.
“Eu dei a epinefrina para ela,” ele confirmou. “E ela tem mais um autoinjetor se ela precisar antes da ambulância chegar.”
O despachante gritou um reconhecimento e assegurou-lhe que uma ambulância estaria lá em alguns minutos. Theo olhou em volta para os garçons parados e os outros clientes olhando abertamente para o drama.
“Ela vai ficar bem”, ele tranquilizou o público. “A ambulância já está chegando.”
“Podemos fazer mais alguma coisa?” um dos garçons de camisa branca perguntou ansiosamente, pairando por perto. “Você quer um copo de água gelada para sua garganta?” ele perguntou a Juneau.
Juneau balançou a cabeça. Ela esfregou os braços, olhando para as irritações na pele e tremendo na sala quente.
“Você está com frio?” o garçom perguntou. “Você quer um cobertor ou algo assim?”
Juneau assentiu. Ela tentou responder em voz alta, mas sua garganta ainda não a deixava falar. O garçom recuou e voltou alguns minutos depois com um cobertor prateado brilhante, obviamente retirado de um kit de emergência em algum lugar. Ele ajudou a desdobrá-lo e envolvê-la com ele, e Juneau se amontoou ali miseravelmente, olhando para a pizza para a qual ela não tinha mais nenhum apetite. Parecia que havia se passado horas e eles ainda não tinham chegado. Sua respiração começou a assoviar novamente, e Theo tirou a tampa do outro autoinjetor, com o coração acelerado. Finalmente ouviram a sirene da ambulância. Juneau estendeu a mão para detê-lo. Em um minuto, a ambulância parou no estacionamento e um paramédico entrou e olhou em volta. Ele correu em direção àJuneau.
“Teve uma reação, não foi, amor? “ele questionou, curvando-se sobre Juneau. Ele olhou para o autoinjetor descartado deitado sobre a mesa. “Já tomou uma epi?”
“Eu tava prestes a dar esse outro pra ela”, Theo ofereceu, exibindo-o.
O paramédico sentiu o pulso de Juneau e colocou seu estetoscópio por um momento para ouvir seu peito. Seus movimentos eram calmos e vagarosos.
“Vamos dar o outro pra ela,” ele concordou e tirou-o da mão de Theo e aplicou-o na coxa de Juneau. A respiração de Juneau melhorou novamente e ele acenou com a cabeça.
“Tudo bem, amor. Vamos colocar você na ambulância e levar pro hospital pra gente poder cuidar de você. Consegue andar?”
Juneau acenou com a cabeça, fazendo um barulho na garganta. O paramédico olhou para a pizza que Juneau estava comendo.
“Você sabe o que desencadeou a reação?
Juneau balançou a cabeça. O médico pegou um garfo e começou a mexer na área em torno de onde Juneau estava comendo. Ele tirou todos os ingredientes e cutucou um pequeno pedaço rosa para o lado.
“Camarão. Você pediu isso?”
Juneau balançou a cabeça, e Theo também.
“Ela é alérgica a mariscos”, disse Theo. “O camarão é marisco?”
O paramédico acenou com a cabeça.
“Com certeza é”, ele concordou. “Você pediu pra colocar camarão na pizza?”
“Não. Não sabia que o camarão era marisco, mas em nenhum momento a gente pediu isso.”
“Bom, as vezes tem contaminação cruzada. Vamos lá,” ele colocou um braço em volta de Juneau e a ajudou a se levantar. “Vamos colocar você dentro da ambulância e vamos cuidar de você, ok?”
Juneau caminhou com ele até a ambulância, onde o outro paramédico ajudou a colocá-la no fundo e na maca. Ele verificou os sinais vitais de Juneau e colocou uma máscara de oxigênio no rosto dela.
“Só por precaução” alertou ele. “Você está respirando bem, mas vamos dar o próximo passo para ter certeza de que você vai estar confortável. Eu vou te dar uma injeção intravenosa também, pra termos um ponto de acesso se tivermos que injetar mais epinefrina ou alguma outra coisa. Ok?”
Juneau assentiu. O paramédico examinou sua pulseira de alerta médico de perto e começou a amarrar um torniquete para encontrar uma veia sob sua pele pálida, agora manchada por urticárias vermelhas. Ele conseguiu acertar a veia na primeira vez, ao contrário de algumas das outras experiências de Juneau, e colou a agulha firmemente no lugar. As portas dos fundos da ambulância foram fechadas e Juneau ouviu Theo perguntar se ele deveria ir junto com eles ou ir com seu próprio carro.
* * *
Quando Ursula chegou ao hospital, seu rosto estava beliscado e branco. Ela foi direcionada para a maca de Juneau e encontrou Juneau descansando confortavelmente, conversando com Theo enquanto ele segurava sua mão.
“Ah, querida!” Ursula chorou, curvando-se para abraçá-la e beijá-la. “Você está bem?”
Juneau assentiu.
“Eu tô bem agora. Está tudo bem, mãe.”
“Não acredito que isso aconteceu! A gente tinha acabado de falar sobre isso! Você disse que ia tomar cuidado!”
“De alguma forma, tinha um pouco de camarão na pizza”, explicou Theo. “O sabor que a gente pediu não ia camarão, mas ele caiu na pizza ou algo do tipo. Ele tava debaixo de outras coisas, então a gente não viu. A Juneau começou a ter uma reação, mas não sabíamos porquê.”
“Você tem que tomar mais cuidado”, protestou Ursula, ainda em pânico.
“Não dava pra ver” apontou Juneau. “Ninguém sabia que estava lá. Nem sempre dá saber. É por isso que eu tenho a epinefrina.”
Ursula a abraçou novamente.
“Oh, meu bebê. Eu quero que você fique segura. Não é sua culpa, mas isso me assusta pra caramba!”
“Você não é a única”, disse Theo secamente.
Ursula voltou sua atenção relutantemente para Theo.
“Você está bem? Deve ter sido muito assustador ver pela primeira vez. Mesmo depois de meia dúzia de vezes, ainda me assusta.”
Ele assentiu.
“Obrigado, estou bem. Mas foi assustador. Nunca tive que lidar com uma emergência como essa antes.”
“Ele se saiu muito bem”, disse Juneau. “Me deu a epinefrina e ligou pro 911 e tudo mais. Ele não entrou em pânico.”
“Bom para você”, disse Ursula fervorosamente. “Muito obrigado por cuidar da minha Juneau.”
Theo assentiu alegremente.
“Foi um prazer! Não deixaria que nada acontecessem com ela.”
Ursula colocou a mão brevemente em seu ombro e deu-lhe um aperto grato. Um médico entrou na sala e olhou em volta para eles.
“Então, você deve ser a mãe”, ele cumprimentou.
Ursula acenou com a cabeça.
“Ursula”, ela se apresentou, estendendo a mão para apertar a dele. “Acho que não nos conhecemos antes.”
Ele apertou a mão dela brevemente e soltou-a.
“Doutor Stonehawker. Não, acho que não”, concordou. “Estou aqui há apenas alguns meses. Você conhece a maior parte do pessoal da emergência?”
Ursula deu de ombros.
“Alguns deles”, ela suspirou. “Então, como está a Juneau?”
“Parece tudo bem agora. Os anti-histamínicos para os próximos dias devem fazer as urticárias desaparecerem. Se isso não acontecer, veja com o médico da sua família para ele receitar um creme específico. Ela está fora de perigo. Todos os sinais vitais dela parecem bons, e ela concordou que provavelmente não é uma boa ideia comer camarão tão cedo.”
Juneau revirou os olhos.
“Não foi de propósito”, reclamou, mas de bom humor.
“A recepção vai te dar os documentos de alta”, disse o médico. “Ela provavelmente vai estar muito cansada, eu sugiro ir direto pra a cama.”
Juneau assentiu. Theo parecia desapontado.
“Sem filme hoje à noite então?” disse ele.
“Hoje não” disse Juneau, pedindo desculpas. “Tô exausta. Eu vou dormir.”
“Ah”, disse Theo, abatido. “Bom, tudo bem.” Ele se inclinou para beijá-la, um rápido selinho nos lábios. “Me liga quando acordar amanhã então, tá?”
Juneau assentiu.
“Claro. Desculpa ter acabado com os planos da noite.”
“Você não planejou exatamente desse jeito”, disse ele compreensivelmente. “Vamos compensar em outro dia. Né?”
“É. Valeu.”
“Obrigada de novo, Theo”, disse Ursula, dando tapinhas no braço de Theo. Ele sorriu, acenou com a cabeça e saiu do quarto do hospital.
* * *
“Tá se sentindo melhor hoje?” Abe perguntou a Juneau enquanto ela se sentava em um dos bancos da cozinha.
Juneau olhou para o pai. Alto, olhos e cabelos escuros, um rosto amigável e aberto. Ele era magro, seu rosto quase descarnado sob a brilhante luz do sol da cozinha, mas o brilho da vida em seus olhos o impedia de parecer insalubre, apesar de suas proemintentes maçãs do rosto.
“É, tô bem. Hoje está um pouco nublado,” apontou Juneau, passando os dedos pelos longos cabelos loiros para domá-lo e amarrando-o em um elástico para fazer um rabo de cavalo.
“Sua garganta inchou?” Crispin indagou, tendo perdido os detalhes na noite anterior.
Juneau olhou para seu irmão mais novo, seu cabelo loiro sujo precisando de um corte e seus olhos cintilantes, como os de Abe, exceto pela cor azul brilhante. Ele se deleitou com a emoção de sua experiência de quase morte. Ela balançou a cabeça.
“Sim, minha garganta inchou”, disse ela repressivamente.
“Você teve que tomar uma injeção? De epinefrina?”
“Sim. Duas.”
Os seus olhos ficaram redondos de surpresa.
“Duas? Uau. Você desmaiou?”
“Não.”
“Então eles não tiveram que fazer uma RCP?” ele persistiu.
“Não. Já chega, tá bom?” Juneau acenou significativamente para o pai, de costas para eles, não querendo que ele se preocupasse. Crispin revirou os olhos e deu de ombros, sentando-se no banco ao lado dela.
“Você lavou as mãos antes de comer ontem à noite?” Abe questionou. “Se você tivesse tocado em alguma coisa durante o dia e não lavasse as mãs antes de comer, poderia causar uma contaminação cruzada. Sem mencionar os germes”, ele estremeceu com a palavra” germes”, como se isso o machucasse.
“Sim”, mentiu Juneau, com um suspiro de irritação. “Mas lavar as mãos não ajuda se alguém contaminar a sua comida. Não fui eu que coloquei o camarão lá. Não tinha nada que eu pudesse fazer.”
“Talvez se você comesse com mais cuidado”, sugeriu ele, carrancudo, “comer mais devagar e verificar cada mordida antes de pôr na boca…”
“Pai… Eu tomo cuidado. Mas não importa o quanto você olhe, você ainda pode deixar algumas coisinhas passarem batidas. Não dá pra ver cada molécula microscópica de contaminantes. Não dava pra ver o camarão.”
“O paramédico conseguiu ver.”
“Ele conseguiu ver um pedacinho em um parte que eu não tinha comido ainda. Talvez o pedaço que eu comi era muito pequeno pra notar. Em nenhum momento eu vi o camarão antes de por na boca.”
“Você precisa tomar cuidado.”
“Eu sei, pai. Eu tento.”
Ele ficou em silêncio, trabalhando no café da manhã como se tivesse sido completamente absorvido por ele. Juneau olhou para Crispin, levantando ligeiramente as sobrancelhas. Crispin observou Abe trabalhar por alguns minutos, depois desceu do banquinho e foi até o armário da despensa, voltando com uma caixa de cereais açucarados. He boosted himself back onto the stool.
Abe olhou para Crispin com tristeza.
“Você vai comer esse lixo em vez do café da manhã nutritivo que estou fazendo para você?”ele censurou.
“Vou comer isto enquanto espero. Só um lanchinho para eu aguentar. Vou comer o seu também.
“Essa coisa é puro açúcar e conservantes. Não tem um nutriente. Se você quer algo enquanto espera, pegue uma maçã.”
Abe fez sinal para a cesta de frutas.
“Não quero maçã. Eu quero isso.” disse Crispin teimosamente.
Ele começou a mastigar o cereal. Juneau olhou de lado para ele algumas vezes. Crispin suspirou.
“Você pode comer isso?” perguntou ele.
“Sim.” disse Juneau imediatamente, com um tom magoado.
“Você quer um pouco?” ofereceu ele, com relutância.
Juneau estendeu a mão em direção ao cereal. Abe interceptou a caixa e virou-a para olhar na lateral.
“Você verificou os ingredientes?” exigiu ele.
“A mamãe não compraria se eu não pudesse comer. Ou, se eu não pudesse, ela teria me dito.”
“Você leu os ingredientes?” repetiu ele.
“Não! Eu não preciso.”
“Você precisa aprender a ler os ingredientes para quando você estiver sozinha e a sua mãe não estiver lá para fazer as compras por você.”
“Eu sei ler.” rosnou Juneau. “Eu só não preciso ler isso.”
Ele segurou a caixa na frente dela com uma das mãos.
“Você tem que ler se quiser comer qualquer um deles.” advertiu ele.
Juneau fez uma careta. Ela estendeu sua mão em direção à caixa, mas ele não passou-a para ela.
“Eu vou ler! Me dê!” Insistiu Juneau.
Ele esperou um momento, antes de devolver a caixa para ela. Juneau pegou a caixa, fazendo algumas peças voarem pelo balcão. Ela virou a caixa para encontrar o painel das informações nutricionais e começou a ler rapidamente, juntando as palavras.
Farinha de milho, Açucar, Xarope de Milho, Óleo de Canola, Modificado… Amido de Milho Modificado, Sal, Goma de Guar, Goma Arábica, Xarope de Milho rico em Frutose, Car-car-carbonato de cálcio, Fosfato bi-cálcico, Fos-fosfato tri-tri-“
Crispin estava esticando o pescoço para olhar os ingredientes.
“Fosfato trissódico.” contribuiu ele, ajudando.
Juneau rosnou com raiva e bateu com a caixa no nariz dele. Crispin gritou, mas ele estava dando risadas por ter lido facilmente uma palavra que ela tinha dificuldade em ler.
“Pare de bancar o espertinho.” ordenou Juneau, irritada.
“Não posso fazer nada se eu sou inteligente.” disse ele, com um tom de superioridade. “Talvez se você praticasse mais, você-“
“Cale a boca!” Juneau gritou, dando-lhe um empurrão que quase o derrubou do banquinho. “*Me deixe em Paz!” Ela colocou a caixa de cereal no balcão com força, espalhando cereal por toda parte e saiu da mesa, foi para o andar de cima, até seu quarto e bateu a porta.
Abe e Crispin se entreolharam por um momento, surpresos com a explosão. Abe virou panquecas com um movimento preciso.
“Você sabe que ler é difícil para a Juneau.” disse ele eventualmente.
Crispin suspirou dramaticamente e inclinou a cabeça.
“Eu sei.” disse pomposamente. “Porque ela tem dificuldades de aprendizagem.”
“Sim, ela tem. E não é porque ela não pratica ou não se esforça o suficiente, ok? Ela foi um bebê prematuro, muito doente, e muitas vezes os prematuros têm dificuldades de aprendizagem. Não é legal zombar disso.”
“EU não estava zombando.” apontou Crispin. “Eu só estava ajudando com uma palavra.”
“Não ajude, ok? Ela não precisa que o seu irmãozinho fique se gabando de que ele lê melhor do que ela aos oito anos enquanto ela tem dezessete. Isso a magoa. Ela está fazendo o melhor que pode e eu estou tentando ajudá-la a desenvolver esses hábitos antes de sair de casa. Você não quer que ela passe mal só porque para ela ler era muito complicado, quer? Você não quer que ela se sinta confortável lendo uma rmbalagem antes de comer?”
“Sim. Eu não estava impedindo-a de ler.”
“Crispin.”
“O quê?”
“Pare de discutir comigo. Eu estou te falando. Não corrija a leitura dela ou ajude-a a ler. Na verdade, não diga nada sobre a leitura dela. Não ajuda.”
Cristin esmagou um punhado de cereal com o punho.
“Está bom!” disse ele mal-humorado.
“Agora suba as escadas, peça desculpas à sua irmã e diga a ela que está na hora de comer. E sim, ela tem que comer antes de ir para qualquer lugar porque eu não quero ela se arrisque e coma alguma coisa contaminada em outro lugar hoje.”
Crispin desceu do banco.
“Ela não vai me ouvir.” afirmou ele.
“Vá pedir desculpas.”
* * *
Dez minutos depois, depois de muita bajulação e algumas ameaças, Juneau estava sentada à mesa. Ela estava de costas para Crispin, que ainda estava sentado na ilha, abrindo caminho através de uma pequena pilha de panquecas.
“Você conseguiu novos Epipens no hospital?” Abe questionou.
“Não. Eles me deram uma receita. A mãe vai buscá-los.”
Abe encarou-a.
“O quê?”
“A mamãe vai pegá-los.” repetiu Juneau.
“Então por agora você está andando por aí sem nenhum autoinjetor.”
“Bem, sim, mas só até a mãe pegá-los. Vou tê-los essa noite.”
“E se você tiver uma reação durante o dia?”
Juneau olhou para ele.
“Eu não vou. Eu estou comendo o seu café da manhã, né? Vou fazer um almoço para levar para a escola. Essa noite eu vou jantar em casa. Não existe a possibilidade de eu me contaminar se eu só vou comer a sua comida.”
É claro que existe. Sempre existe a possibilidade de você se contaminar. Você pode tocar em algo na escola e depois lamber o dedo para virar uma página. Os alimentos da nossa cozinha podem ter sido contaminados na fábrica e ainda não foram recolhidos porque ninguém sabe. Você pode ter uma reação a uma picada de abelha ou a uma planta com flores, mesmo que nunca tenha tido uma reação a elas antes. Você pode ter uma alergia a algum alimento que você nunca foi alérgica antes. Você nunca está segura, você precisa sempre ter dois autoinjetores com você, não importa o que aconteça.”
“Bem, o hospital não me deu nenhum e a mãe vai buscá-los hoje na farmácia.” disse Juneau teimosamente.
“Veremos.” respondeu Abe. Ele pegou o celular e ligou para Ursula. Ele repetiu acaloradamente os perigos para ela de Juneau ter uma reação durante o dia e houve um silêncio do outro lado da linha.
“Como vou buscá-los antes da escola?” Exigiu Ursula finalmente. “Eu tenho apresentações e reuniões e a farmácia só abre às dez ou onze horas. Vai ter que esperar.”
“Estamos falando da vida da nossa filha. As reuniões não importam. Existem farmácias vinte e quatro horas. Você arruma tempo quando a vida de alguém depende disso.”
Ursula suspirou.
“Abe… I’m at an open house. Se você quiser vir até aqui para pegar a receita, ir até à Farmácia pegar os autoinjetores e levá-los para a Juneau na escola, então vá em frente. Não posso sair daqui antes das duas.”
“Eu vou, então. disse Abe friamente. “Qual é o endereço?”
Ursula passou-lhe o endereço e desligou. Abe falou com Juneau.
“Acorde a sua irmã. Temos que sair.”
“O quê?” Protestou Juneau, olhando para o relógio. “Não há tempo de sair e pegá-los agora. Vou chegar atrasada na escola.”
“E eu vou chegar atrasado no trabalho. Que pena. Isto é importante.”
Exasperada, Juneau levantou-se e arrastou-se pelas escadas para acordar Meggie.
“Eu ainda nem me arrumei.” resmungou ela. “Eu tenho que lavar o cabelo e…”
“Precisamos pegar o seu remédio. Agora. Chame a Meggie, vista alguma coisa nela e vá para o carro. Eu arranjo algo para ela comer no caminho. Seu cabelo vai ter que esperar.”
“Eu não posso ir para a escola sem tomar banho e fazer o meu cabelo!” Juneau lamentou, incrédula.
“Dessa vez você vai ter que ir. Vamos. Não quero me atrasar mais do que eu preciso para o trabalho.”
Os passos de Juneau a levaram o resto do caminho para cima e para o outro lado da casa e Abe ligou para sua primeira consulta para avisar que ele se atrasaria.
“Pegue sua mochila.” disse ele a Crispin. “Temos de ir.”
✨Capítulo 2
URSULA ROLOU PARA O LADO em sua cama e estendeu a mão procurando seu celular, o qual havia vibrado o suficiente para acordá-la. Estava no modo “não perturbe”, então apenas ligações ou mensagens frequentes ou ligações e mensagens dos contatos favoritados dela deveriam perturbá-la. Ou talvez uma atualização no sistema operacional tenha atrapalhado o recurso “não perturbe”. De novo. Ela deslizou-o rapidamente para fora do criado-mudo para desligar a vibração e segurou-o abaixo do nível da cama antes de ligá-lo para que a tela iluminada não acordasse Abe. Havia várias mensagens não lidas. Ursula passou os olhos pelas mensagens e, em seguida, virou-se para olhar para a cama vazia ao lado dela. Abe estava acordado e pelos textos parecia que ele havia ligado para todos que conhecia no meio da noite. Úrsula bocejou, espreguiçou-se e esfregou os olhos, querendo desesperadamente virar-se e voltar a dormir. Isso pode esperar até amanhã, não pode? Forçando-se a sair da cama, ela puxou o casaco e os chinelos e arrastou-se para o andar de baixo.
Abe estava na cozinha. Ela sentiu o cheiro do que ele estava cozinhando assim que saiu do quarto. Ursula viu, por um momento, o que parecia ser um caos absoluto, antes que Abe a notasse e distraísse sua atenção para ele.
“Ursa!” ele sorriu. “Estou tão feliz que esteja acordada! Dormiu bem?”
“Não.” Ursula esfregou os olhos e parou para bocejar. “Ainda está de madrugada. Você está bem?”
“Estou bem. Estou ótimo, na verdade. Eu dormi muito bem e acordei com tanta energia. Tive esta ideia de um pão de abóbora; não um doce, mas um pão salgado, poderíamos comê-lo com, digamos, o peru e o recheio no dia de Ação de Graças ou no Natal. E algumas nozes. Preciso de arranjar algumas nozes. Nozes pecãs? Talvez avelãs torradas. De qualquer forma, eu estou fazendo isso.” ele apontou para uma tigela, “E eu estou brincando com um arroz selvagem/quinoa pilaf para acompanhar o pão e eu pensei que eu poderia fazer alguns incríveis biscoitos de açúcar.” Ele olhou para o forno. “Eles serão decorados como biscoitos de gengibre em formato de homenzinho, mas rosa e podemos usá-los para promoções da sociedade do câncer, sabe? E para o café da manhã de hoje, eu estava pensando em te surpreender com um suflê de chocolate. Mas agora você está acordada! Então eu acho que não será mais um segredo, mas você acha que poderia ir ao mercado e comprar alguns ovos? Parece que acabaram.”
“É porque a sua filha é mortalmente alérgica a eles.” disse Ursula secamente. “Ovos não são permitidos nessa casa. Você só os usa no trabalho.”
“Ah, é verdade! Juneau! Duh! Então dane-se o suflê de chocolate. Talvez uma omelete espanhola? Não, não, vai ovo nisso também. É o ovo, certo, não é o chocolate que é o problema?”
“Sim. Ovo.” concordou Ursula.
Abe de repente se endireitou como se tivesse recebido um choque elétrico e tocou seu ouvido, onde Ursula percebeu que ele estava usando um receptor Bluetooth.
“Dennis! É verdade! Tinha me esquecido que você estava aí! Desculpa, cara. A Ursula acabou de acordar. Urs, Dennis disse oi. Dennis, o que você quer para o almoço amanhã? Vou fazer alguma coisa para você! Você gostou do tagine que eu te fiz no Ano Novo, você quer? Não, sem problemas. É claro que estarei lá, temos aquela reunião com a empresa, sim, para fazer aquela apresentação sobre gourmet na cabine. O quê? Você tem que ir? Tem certeza? Sim, a Urs disse oi. Está bem, falamos depois. Te vejo na apresentação.”
Ele inclinou a cabeça e olhou para Úrsula.
“Você parece cansada, querida. Está tudo bem? A Juneau está bem? Ela parecia bem quando foi para a cama. As urticárias estavam sumindo, quase todas. Ela disse que estava bem.”
Ursula acenou com a cabeça.
“A Juneau está bem. Fique quieto por um minuto.”
Ele abriu a boca para falar, pareceu assustado e parou.
“Abe. Você tomou seus remédios hoje? Ontem, quero dizer? Antes de você pegar a receita da Juneau comigo?”
“Claro que tomei. Eu sempre tomo.” zombou ele.
Ursula foi até a gaveta, abriu-a e tirou a caixa com o rótulo: segunda-feira. Ela a sacudiu e a caixa fez barulho. Úrsula ergueu-a, balançando a cabeça.
“Você não tomou. Você entrou em pânico com os autoinjectores da Juneau e esqueceu-se de tomá-los.”
Abe parecia abatido.
“Eu esqueci? Ah… Eu esqueci. Desculpa!”
Ursula fez sinal para a cozinha caótica. Parecia que ele tinha esvaziado cada gaveta e armário em sua busca para criar uma nova receita.
“Não lhe ocorreu quando isso aconteceu que você poderia estar tendo um episódio maníaco?”
Abe riu.
“Quando me sinto assim, não importa se estou maníaco.” ressaltou ele. “Eu me sinto tão bem. Eu consigo fazer tanta coisa. Tenho todas estas ideias maravilhosas! Eu não tenho tempo para perder com essas coisinhas… como estar maníaco.”
“Bem.” Ursula soltou um grande bocejo e nem sequer tentou cobri-lo. “O resto de nós, que gosta de dormir à noite, gostaria que você percebesse quando está assim. Aqui, tome-os agora.”
Abe tomou o punhado de comprimidos dela e engoliu-os a seco. Ursula balançou a cabeça.
“Eu não sei como você consegue fazer isso. Eu iria me engasgar.”
“Muita prática.” disse Abe dando de ombros. “Quando eu estava no hospital-“
“Comece a limpar.” ordenou Ursula. “Não ligue para mais ninguém. Está todo mundo dormindo, está bem? Vou voltar para a cama. É melhor que essa cozinha esteja um brinco pela manhã.”
“É claro!” Abe concordou. “Eu nunca deixaria a cozinha bagunçada. Pelo menos é uma coisa com que se pode contar com o TOC -“
“Abe!”
Ele parou de falar imediatamente e esperou humildemente.
“Arrume a cozinha. Não ligue para ninguém. Não saia. Você tem uma reunião de manhã, então não pode ficar perambulando de noite. Você precisa ir para o trabalho de manhã. Está me ouvindo?”
Abe assentiu.
“Estou te ouvindo, Ursula.” disse ele com um suspiro triste. “Acabou a diversão. Tome seus remédios, se acalme e seja um bom menino. Eu sei, eu sei.”
Ursula acenou com a cabeça. Ela esfregou os olhos e olhou em volta para as várias tigelas.
“Quanto tempo até que esses cookies ficarem prontos?” questionou ela.
Abe olhou para uma série de temporizadores alinhados ao longo do balcão.
“Mais três minutos. Mas eles tem que esfriar para que eu possa congelá-los e decor-“
“Não, Não. Eu só quero um cookie fresquinho, acabado de sair do forno. Depois vou voltar para a cama.”
Ursula pousou em um dos bancos ao longo da ilha e esperou mais três minutos, ouvindo Abe tagarelar animadamente. Quando o temporizador apitou ele olhoui em volta sem expressão.
“Para que foi esse alarme?” meditou ele.
“Para os cookies.” disse Ursula.
“Ah, os biscoitos.”, Abe concordou alegremente. Ele se virou para o forno e removeu cuidadosamente a bandeja.
Ursula foi ao redor da ilha e começou a salivar por ele.
“Você tem que esperar até que esfriem.” insistiu Abe. “Eles estão muito frágeis agora-“
“Nop. Vou comer agora, com migalhas e tudo, e voltar para a cama.”
Ela usou uma espátula para pegar um deles e fez malabarismo com o biscoito quente por alguns instantes até ela conseguir dar algumas mordidas e ele ter esfriado o suficiente para conseguir segurá-lo confortavalmente.
“Ok. Agora, o que você deve fazer?”
“Arrumar a cozinha. Apresentação amanhã.”
“Isso. Boa noite.”
Ele se inclinou e beijou-a suavemente nos lábios. Ele cheirava a caramelo, e a algo forte, um tempero que ela não tinha certeza de qual era.
“Sabe, eu poderia voltar para a cama com você.” sugeriu ele, puxando-a para perto dele e olhando para ela com aquele brilho no olhar.
Ursula balançou a cabeça inflexivelmente.
“Não, eu preciso dormir. Você vai me manter acordada a noite toda. Agora me solte.”
Ele relutantemente a libertou.
“Vamos lá, Urs, só por alguns minutinhos.”
“Nop. Uma noite de sono para mim. Limpeza para você.”
Abe acenou com a cabeça e voltou ao trabalho de arrumar a cozinha. Ursula voltou para seu quarto no andar de cima. Antes de subir as escadas, ela parou no bloco de alarme contra roubo e armou-o para que o alarme soasse caso alguém entrasse ou saísse. Ela voltou para a cama, mandou um mensagem de texto para Dennis com um breve agradecimento e desculpas e tentou voltar a dormir.
* * *
“Cookies?” Ofereceu Abe, segurando um prato com guloseimas cor de rosa para Dennis, encarando o chão e com o rosto vermelho, parecendo envergonhado.
Dennis era um velho amigo, confortável e tolerante com as peculiaridades de Abe e suas ocasionais noites sem dormir. Seu rosto travesso contrastava com suas costeletas grisalhas, mas de alguma forma trabalharam juntos para produzir a aura agradável e descontraída que ele trouxe para uma sala.
“Claro.” aceitou Dennis, levantando o filme plástico para puxar um biscoito para comer de uma vez. Ele inalou o cheiro doce, suspirou e deu uma mordida lenta e pensativa. “Então”, continuou ele, ” como você está? Está se sentindo melhor?”
“Melhor? Eu me senti incrível noite passada. Sair de um episódio de mania não faz eu me sentir melhor, parece… como ter que colocar seu animal de estimação favorito para dormir. Você pode até estar ajudando ele a sair de uma situação miserável, mas você nunca fica feliz em fazer isso. Quando estou maníaco… nada supera essa sensação. Eu sou capaz de fazer qualquer coisa. Estou no topo do mundo.”
“Ok, então eu quero dizer… você se acalmou? Está pensando claramente agora? Porque essa é uma apresentação importante.”
“Sim, eu sei. Claro, estou pronto. Estou me sentindo mais normal-seja lá o que é isso – com apenas uma pitada de mania nas bordas.” disse ele tentadoramente. “Apenas o suficiente para deixar todo mundo animado com o projeto.”
Dennis sorriu.
“Parece bom. Acha que devemos levar os seus cookies para eles? Eles estão muito bons!”
Abe olhou para o prato.
“Claro, por que não? Um pouco de açucar ajudaria todo mundo nesse acordo.”
“As pessoas são sempre mais agradáveis com barriguinhas cheias e níveis mais elevados de açúcar no sangue.” concordou Dennis. “Isso pode ser a chave para convencê-los. Né?”
Abe assentiu. Ele assobiou uma respiração, atingido por um lampejo de uma ideia brilhante.
“Talvez eu devesse decorá-los com-”
“Abe!” Disse Dennis bruscamente, trazendo-o de volta à realidade.
“O quê?” Abe exigiu, assustado.
“Eles estão bom do jeito que estão. Vamos ensaiar a apresentação mais uma vez.”
“Eu sei a apresentação inteira de trás para a frente.” disse Abe agitando as mãos. “Não aguento mais revê-la.”
Dennis suspirou.
“Está bem.” ele concordou. “Por que você não faz uma pausa e nos encontraremos de novo às dez. Pode ser?”
Abe assentiu.
“Pode ser. Eu tenho que fazer algumas ligações.”
“Você ouviu mais alguma coisa sobre o seu Rei do Crime lá?” Questionou Dennis curiosamente. “Eu vi uma coisa sobre ele na TV ontem à noite. Quando estava tentando voltar a dormir.”
“É, desculpa por isso.” disse Abe com uma careta. “Eu tenho que fazer algumas ligações sobre ele hoje. Eles estão reclamando de novo que as calorias no plano de refeições não estão altas o suficiente. Ou baixas o suficiente. Dependendo com quem você fala. Se pudesse convencer o Banducci de que eu aumentei as calorias e o pessoal da prisão de que eu abaixei… Tem alguma forma de eu fazer isso? Eu ainda acho que existe alguma coisa que eu possa fazer…”
Dennis considerou.
“Bem… por que você não tira um pouco dos vegetais e adiciona uns hambúrgueres ou algo assim… mantenha a mesma quantidade de calorias. Diga ao Banducci que você cedeu e que acrescentou uns hambúrgueres outras porcarias. Diga ao pessoal da prisão que você retirou vários itens… E não diga a ninguém quantas calorias estão realmente no plano.”
“Brilhante.” irrompeu Abe. “E eu ainda posso fazer com que os hambúrgueres sejam o mais saudável possível. Uma carne magra, com um pouco de lentilha e legumes moídos para fazer o hambúrguer, um molho bem cremoso low-carb para fazê-lo parecer mais patitoso…”
Dennis acenou com a cabeça.
“Isso aí, você consegue. Faça-o pensar que eles está recebendo mais comida. Ele não vai se importar se você tirar alguns vegetais. Se o pessoal da prisão perceber que você adicionou hambúrgueres, explique que eles são apenas um veículo para fornecer mais lentilhas e vegetais e para enganar o Banducci para que coma alimentos mais saudáveis.”
“Perfeito. Só que ele ainda não vai perder peso.”
“Não,” concordou Dennis ” mas será que alguma coisa o fará perder peso?”
“Não. Ok. Tenho que reformular a dieta dele. Falo com você mais tarde.”
* * *
Sentado no bar do aeroporto no final do dia, Abe estava tentando recuperar o equilíbrio.
“Eu acho que o pessoal da empresa gostou da apresentaçõa.” ofereceu Dennis encorajadoramente.
Abe tomou um gole de bebida, franzindo a testa.
“Não vai funcionar, Dennis.” disse ele melancolicamente.
“O que, por que não?” Exigiu Dennis.
“Eu só sei. Dava para ver nos olhos deles. A gente não devia nem ter tentado apresentar algo. Não só eles não vão aceitar a proposta, eles provavelmente também vão perceber que o cara que têm feito análises nutricionais para eles é um idiota e eu estarei na rua!”
Dennis balançou a cabeça ao ouvir isso. Ele deu um tapa encorajador no ombro de Abe.
“Vamos, Abe. Você sabe que isso não vai acontecer. Eles te adoram. E todos nós pensamos que você fez um grande trabalho transformando os Serviços de alimentação da companhia aérea. Ninguém quer te mandar embora.”
“Se eles soubesssem de alguma coisa, eles mandariam.”
“Nã, eles não mandariam.” disse Dennis com firmeza. “Agora, Abe. Olhe para mim.”
Abe levantou os olhos escuros e opacos de sua bebida.
“Ouça. Você está cansado. Você ficou acordado metade da noite. Você ficou atordoado depois do seu episódio de mania e agora você está se sentindo deprimido. Isso já aconteceu antes. Não é? As coisas vão parecer melhores quando você estiver de volta ao normal. De manhã, ou dentro de alguns dias, você vai se sentir bem de novo. Por enquanto, você vai ter apenas que confiar em mim. Não estou te enrolando. Qual seria o sentido disso? Você faz um ótimo trabalho aqui. E vai fazer ainda melhor quando essa proposta for aceita. Só aguente firme aí, ok? Continue funcionando só mais um dia ou dois. Vai passar.”
“Você não sabe como é a sensação.” murmurou Abe.
“Eu sei como parece que é a sensação e parece uma droga. Mas nós dois sabemos como isso funciona, não é? Talvez você não esteja sentindo isso agora, mas sabe que está tudo no seu cérebro. Vai melhorar. Issó é só porque você teve um colapso. Você vai tomar os comprimidos e vai se sentir melhor.”
“Eles não fazem nada. Eles não ajudam em nada.”
Abe tomou outro gole de sua bebida.
“Está bem, mas você precisa continuar tomando os comprimidos,” disse Dennis, “pela Ursula, ok? Pelas crianças. Eles precisam que você continue a tomá-los.”
Abe assentiu.
“Vamos lá.” convidou Dennis, “Eu te levo para a sua casa.”
Abe balançou a cabeça.
“Não, eu estou com o meu carro. Eu vou dirigindo. ”
“Deixe o carro aqui. Eu te busco amanhã e você volta para casa com ele depois.”
“Eu consigo dirigir.” disse Abe melancolicamente.
“Você não está se sentindo bem. E você tomou algumas. Eu disse à Ursula que te levaria.”
“Você falou isso para a Urs? Por quê?”
“Porque ela está preocupada com você. Você bebeu um pouco, então deixa eu te levar para a casa.”
Dennis esperava mais argumentos de Abe, mas os ombros de Abe se levantaram e caíram cansados.
“Está bem.” ele concordou, “Se você realmente quer.”
“Sim.” concordou Dennis, “Eu realmente quero.”
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Olhando Por Cima do Ombro
By P.D. Workman